Chegamos nessa cidade numa manhã de outono, bem cedo. Quando o ônibus entrou na rodoviária, já havíamos decidido passar algumas horas por ali e depois seguir viagem. Deixamos as mochilas no guarda-volumes, compramos a passagem para ir a São Carmelo para o fim do dia. Colônia Del Sacramento seria somente uma visita de passagem, por recomendação de um amigo.

Mas que nada, alguns passos e a cidade te espera coberta por um tapete acobreado, todos os tons das folhas de outono cobrindo as ruas, não precisamos mais do que cinco minutos para decidir ficar mais um dia.

Achamos um albergue, fomos almoçar e, na hora da siesta, pegamos as mochilas e trocamos a passagem para o dia seguinte. Fomos caminhar pelas ruas estreitas, de pedras, entre as casas antigas de paredes com ângulos estranhos, as ruas de nomes em português, tudo singular e muito bem preservado. Nas ruas, carros antigos estacionados como esculturas ao ar livre completam o charme do lugar. Alguns ainda circulam pela cidade, fazendo você entrar numa viagem no tempo para o início do século passado.

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Depois da primeira praça coberta de folhas vermelhas e alaranjadas, como num filme, avisto o Farol Del Sacramento, que fica dentro da cidade, onde você pode agendar uma visita se quiser. Foi nesse momento que descobri que essa cidade entraria na minha lista de lugares especiais para morar. Aqueles projetos que são mais que sonhos futuros, são desejos num cantinho do coração.

Ela está às margens do Rio da Prata. É um lugar abrigado para embarcações, e se surgir o desejo de ir até lá velejando, a marina tem bons preços para aqueles que se aventuram a chegar de barco.

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Colônia Del Sacramento foi a única cidade de origem portuguesa, fundada em 1680, no Uruguai, disputada durante séculos pelas coroas de Portugal e Espanha. A cidade conserva ainda na sua arquitetura as características lusitanas da colonização, e boa parte das fortificações são originais da época do português Manuel Lobo, fundador da cidade. E em 1995 ela foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

As principais atrações estão no Bairro Histórico: a Porta da Cidadela. Neste se pode avistar toda extensão do Rio da Prata, cujas águas, embora escuras, tornam a paisagem muito bonita, principalmente ao entardecer.

Há também a Rua dos Suspiros, que, segundo a lenda local, leva esse nome porque havia ali um prostíbulo de onde se podiam escutar os suspiros das moças que ali trabalhavam.

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Tem ainda o Beco da Saudade, a Igreja Matriz e o Convento de São Francisco, a Casa do Vice- Rei, além, é claro, de todas as praças e bancos para se sentar e ficar observando o movimento das pessoas e carros antigos, sentindo o vento nas folhas das árvores. Há também muitas lojas de artesanato local, obras de artes e charmosos cafés com mesinhas nas calçadas.

Um pouco mais longe do centro histórico está a Praça dos Touros, no Complexo Real de São Carlos. Um belo passeio que pode ser feito de bicicleta. São seis quilômetros de uma paisagem que por si só já fazem valer o esforço.

E assim, desse jeito delicado, fomos sendo conquistados dia após dia pela pequena Colônia Del Sacramento. Depois da segunda vez em que mudamos a data da partida, a recepcionista da rodoviária tornou-se amiga, afinal adiamos nossa despedida da acolhedora Colônia Del Sacramento por quatro vezes, e ela sempre dizia ao nos ver: Hoy está más enamorado que ayer por mi ciudad, así hasta mañana! (Hoje estás mais enamorada do que ontem pela minha cidade, então até amanhã!)

Como chegar

Colônia Del Sacramento está bem em frente a Buenos Aires, Argentina, na margem oposta do Rio da Prata. São quarenta quilômetros de travessia de barco, no Buquebus ou no Seacat. O Ferryboat transporta carros de passeio e passageiros a pé.

Se vier de carro a partir de Punta Del Este, serão cerca de trezentos quilômetros de estrada, mais ou menos três horas e meia de viagem. E, de Montevidéu, são cento e oitenta quilômetros, quase duas horas de ônibus ou carro.

Outra opção é o Aeroporto Internacional Laguna dos Patos, em Colônia Del Sacramento, que fica uns seis quilômetros do centro.

Dicas

Assim que chegar, procure as informações turísticas para pegar mapas, guias, horários de funcionamentos dos museus, transportes urbanos, hotéis e o que mais precisar. Os uruguaios são muito educados e recebem bem o turista. Existem hotéis para todos os gostos e bolsos, com um denominador comum: quase todos têm internet e bicicletas para os hóspedes, e a cidade é praticamente plana.

Há muitos mosquitos no verão, por isso, lembre-se de levar repelente. Já no outono é frio, bastante frio por causa do vento constante e a proximidade das águas do Rio da Prata. E a umidade aumenta mais ainda sensação térmica de frio.

Se você não têm muito tempo, o ideal é pelo menos ter três a quatro dias para conhecer a cidade, que oferece ótimos restaurantes, bares com música à noite e ainda shows e apresentações culturais quase todos os dias.

Sobre o autor

Christina Amaral

Acredito na liberdade, e por isso sou poeta das emoções, chef por paixão
pois cozinhar é outra forma de amar, navegadora dos mares e viajante por opção, afinal viajar é nosso único patrimônio.