Por tantos anos, estive tão perto dessa cidade e tão longe ao mesmo tempo. Somente agora, depois de nove anos, cheguei a Veneza. Depois de todas as fotos que vi, guias que li, de gente falando bem e mal, quando desembarquei em Veneza foi amor a primeira vista.
Férias são assim, nos deixam com vontade de não voltar mais pra casa, de viver aquele momento pra sempre.

É uma cidade (ilhas) sem carros, de casas dividindo suas paredes com o mar, e um leve abandono – devido à idade avançada – nas casas de gente comum.
 As flores e as roupas penduradas do lado de fora das janelas, os entregadores, carteiros, prestadores de serviço, lixeiros, tudo funciona e caminha sobre as águas.
 Aqui os nativos não são obesos. Para ir a qualquer lugar, fazer compras, escola ou ir trabalhar, tem que caminhar muito, subir e descer pontes… A vida é a pé.
 Ruas, becos, sottopasso, vielas, todos tem nomes e histórias. Um bom mapa ajuda a achar o caminho de volta.

Existem muitos roteiros: o das pontes, dos castelos, das igrejas, dos museus pra conhecer. Reserve pra isso o tempo proporcional à importância que você dá a essas atividades, e não porque os guias dizem que é visita obrigatória.
Depois, o resto do seu tempo que dispõe aqui, caminhe sem rumo, sem mapa, sem destino, encontre uma ponte, escolha um banco de praça e viva seus momentos de tranquilidade ao entardecer, saboreie um tiramisù – um doce de café cujo nome quer dizer “me levanta”- às margens do Gran Canale, ande por onde vivem os nativos, vá a restaurantes dos locais… Você comerá bem e num preço bem honesto.

Tiramisù - sobremesa tipicamente italiana à base de café

Tiramisù – sobremesa tipicamente italiana à base de café

Em Veneza o sorriso é coisa fácil, todos parecem felizes. Se vê casais enamorados por todos os lados. Deve ser a cidade mais procurada para lua de mel.
 Mas se estiver só, não se preocupe, a cidade tem muito para oferecer. Eu por exemplo, fico horas observando as pessoas passarem, seus sotaques, a dança dos gondoleiros equilibrando-se ao remar de um lado só.
 E por falar em gondolas, naturalmente, o passeio de gôndolas é o ápice. Se é pagar mico de turista, pague (não é barato), a cidade de dentro d’água é ainda mais linda e romântica, e ir a Veneza e não andar de gôndola é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.
 Embaixo de alguma marquise ou uma sottopasso de um prédio, se tiver sorte poderá encontrar com um grupo de canto lírico treinando, usando a perfeita acústica da cidade, e presenteando os passantes com cantos que irão te fazer enamorar por Veneza uma vez mais.

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Ir a Veneza e não andar de gôndola é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.

 

A vida aqui pode ser tranquila, não tem roubo (esqueci meu guia num comércio, voltei pra buscar depois de horas e estava no mesmo lugar que deixei ), nem violência.
Para acostumar com tanto turista, é só fazer como os venezianos, e criar uma vida paralela, com seu dialeto, com seus segredos e particularidades, como as crianças de patinetes, os jovens com ares de proprietários do pedaço, protegendo-se de tanta gente.
Mas não se ofenda, a cidade vive do turismo e tem plena consciência disso. Farão você se sentir muito bem acolhido. Para pedir informação, se você falar italiano, é um momento de diversão, principalmente se tiverem mais de dois nativos. Eles vão ficar dissertando qual o melhor caminho e como chegar lá. Um tentará convencer o outro que do seu jeito é melhor. Nisso talvez esteja pensando que esqueceram de você, mas não se preocupe, chegarão a um acordo e depois com um sorriso explicarão como chegar aonde quer ir. Mas não diga o que planeja fazer, senão a conversa não terá fim.

De um modo geral no comércio encontrará gente bem informada e que fala muitas línguas, menos o português, é claro. Mas sabem muitas coisas sobre o Brasil, além do futebol.

Se é caro? Não mais caro que Roma ou Florença. Se é turística? Todos já sabemos, tem centenas deles caminhando pelas ruas, nas gôndolas e nos pontos turísticos, fotografando compulsivamente. Mas saindo do lugar comum, pode-se encontrar cantinhos agradáveis, ângulos perfeitos como num cartão postal.

Se me perguntar se lá chove muito, digo que não mais que o lugar onde moro (Angra dos Reis) na primavera. Quanto ao mal cheiro que alguns dizem, para ser sincera não senti nada mais que o odor das algas na maré baixa.

Os passeios pelas ilhas vizinhas como Murano, famosa pelos trabalhos em vidros, Burano, uma ilha de pescadores, e ainda Lido de Venezia que são as praias e onde acontece o Festival de Cinema e a Bienal, valem à pena serem feitos. Todos se tiver tempo. E basta meia jornada pra cada um para conhecê-los.

Veneza é um lugar para se perder e assim descobrir suas belezas, no labirinto dos seus canais, no charme do seu passado.

O que não deixar de provar?

Um spritz, um cappuccino ou uma pasta al nero di sépia.

Como chegar?

De avião tem um aeroporto perto, no continente, que oferece um serviço de transporte marítimo a um preço de $8,00 euros até Veneza – se tiver mais que uma mala por pessoa costumam cobrar o dobro.

Se for de Taxiboat, prepare o bolso, é salgado o preço, coisa de $50 euros por pessoa ou mais dependendo da bagagem. E vale a pena? Bem, se seu hotel fica à beira d’água e tem pressa de chegar, será divertido, rápido e você vai se sentir personagem de um filme.

De trem tem linhas de todas as grandes cidades italianas. A Estação Santa Lucia de Venezia é dentro da ilha. É só caminhar para onde quiser ir. Os serviços de transporte marítimos, são eficientes, tem muitas paradas com as informações do horário e as rotas.

De carro: pode deixar no estacionamento depois da ponte, já na primeira ilha, também com preço mais alto do que se deixar no continente e pegar um ônibus (menos de $2 euros) para ir até Veneza que são 20 minutos no máximo. Todos os bilhetes, de barco ou ônibus podem ser comprados nas bilheterias da Piazza Roma ou nas tabacarias.
Se organize e compre antes, lembre-se de validar antes de entrar. Se deixar pra comprar já dentro do veículo custa mais caro.
Taxiboat para o aeroporto custa em torno de 50 euros por pessoa.

Dica

Leve pouca bagagem, mala de rodinhas de preferência. Lembre-se que não existem carros nas ilhas. Você terá que carregar sua bagagem pra cima e pra baixo (existe um serviço de carregador – negocie o preço antes, mas será sempre caro – mínimo de 30 euros dependendo da distância).

Leve sapatos confortáveis para as horas de caminhadas e roupa adequada para a época do ano que for viajar.
Lembre-se que de novembro a abril parte da cidade fica inundada por poucas horas, em alguns dias por causa das grandes marés de lua. Assim como também acontece em Paraty no Brasil.

Se couber no seu bolso, fique hospedado em Veneza para não ter o limite dos horários dos transportes para a volta. Se não, têm outras centenas de opções no continente, como Mestre, Fusina, Padova, Vicenza… Todos esses lugares tem acesso fácil, diariamente e perto para as ilhas. Existem muitos guias bons sobre Veneza. Estude os mapas e o site da cidade.

Quando cheguei no local da foto deste artigo, disse em voz alta: achei meu lugar no mundo.

Despedir-se de Veneza foi com os olhos cheios de lágrimas que embaçaram o último olhar pleno de saudades antecipadas.

Sobre o autor

Christina Amaral

Acredito na liberdade, e por isso sou poeta das emoções, chef por paixão
pois cozinhar é outra forma de amar, navegadora dos mares e viajante por opção, afinal viajar é nosso único patrimônio.